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Sexta-Feira, 23 de Agosto de 2019 às 19:15

UPA, IML e HB se negam a retirar 'objeto estranho' do corpo de mulher presa por tráfico

Guardas Municipais desconfiaram que a jovem de 18 anos escondia droga na vagina.

Em uma ocorrência inusitada de tráfico de drogas, uma médica da rede municipal de saúde, um perito do Instituto Médico Legal e uma equipe do Hospital de Hospital de Base de Rio Preto se recusaram a atender uma jovem de 18 anos.

Daiane (nome fictício para preservar a intimidade) foi detida no final da tarde de ontem por Guardas Municipais, suspeita de estar vendendo drogas no calçadão da cidade. Durante abordagem, foi constatado que ela escondia 18 pedras de crack na boca.

Uma agente feminina foi designada para revistar Daiane e constatou que havia um objeto estranho na vagina na jovem. A equipe suspeitou que fosse mais droga.

Segundo o boletim de ocorrência, a moça foi levada para a UPA Tangará, onde uma médica “se recusou a realizar o procedimento de retirada alegando que não tinha autorização para tanto”.

Apresentada na Central de Flagrantes, o delegado Roberval Costa Macedo telefonou no Instituto Médico Legal e o legista de plantão  também se negou a retirar o material suspeito.

Macedo determinou então que Daiane fosse levada para o Hospital de Base, onde o médico responsável, após consultar o departamento jurídico, disse que o procedimento deveria ser feito por um perito, entretanto ofereceu as dependências do HB, caso a Polícia Civil precisasse.

O boletim de ocorrência informa ainda que Daiane exerceu seu direito constitucional de ficar calada, se recusou a retirar qualquer objeto estranho da vagina, bem como a passar por qualquer procedimento de retirada.

Para o delegado e professor de Direito Penal, Jairo Garcia Pereira, os médicos acertaram em não realizar o procedimento.

“Se não havia o consentimento da paciente, nem requisição expedida pelo delegado ou ordem judicial, penso que os médicos foram prudentes. A legislação não tem uma lei que discipline sobre essa questão e, ainda que houvesse, ia esbarrar nos direitos à integridade física e à intimidade, que estão previstos na Constituição e são tão importantes quanto às questões de segurança pública. Se o médico, contra a vontade da jovem, realiza exames que eu acredito ser invasivos, além de incorrer em discussões sobre a ética médica, poderia produzir provas que, para a Justiça, podem ser consideradas ilícitas”, explicou.

Jairo esclareceu, no entanto, que o caso é específico e incomum. É diferente do paciente que ingere entorpecentes e precisa ser submetido a procedimentos ou cirurgia porque corre risco de morte. Nesse caso, a pessoa não tem opção.

Macedo prendeu a jovem porque entendeu que as 18 pedras de crack encontradas na boca excedia a quantidade razoável para a alegação de consumo pessoal. Além do mais, Daiane já registra ato infracional por tráfico de drogas quando tinha 17 anos.

Finalizada a ocorrência, o mistério sobre o que a moça trazia na vagina não foi desvendado.

Ela passou por audiência de custódia nesta sexta-feira, 23, e o juiz Cristiano Mikhail decidiu pela manutenção da prisão. Daiane tem um bebê de apenas dois meses de vida, que está sob os cuidados da avó materna na cidade de Irapuã, região de Catanduva.

A Secretaria Municipal de Saúde está analisando se a médica da UPA Tangará seguiu o protocolo de atendimento. Já o Hospital de Base informou que a paciente foi avaliada e a equipe médica descartou o risco de morte e a necessidade de intervenção cirúrgica.

Sobre a recusa de atendimento pelo médico legista do Instituto Médico Legal, a Secretaria de Segurança Pública ainda não se manifestou. 

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