Dois de novembro, feriado de finados. Este foi o dia
apontado pelo calheiro Paulo Adriano Ito, 34, como sendo a data do primeiro
encontro entre ele e a estudante Jully Anne Esteban Martins, 19, encontrada morta
na noite de quinta-feira, 29, na casa dele.
Em um pequeno caderno espiral, onde Ito fazia anotações
pessoais, ele datou 09 de Novembro de 2018 na parte superior da folha e embaixo
escreveu: “1 cemana eu Julieni juntos (sic)”, seguido do desenho de um coração.
No mesmo caderno, encontrado pela reportagem entre os
pertences do ex-inquilino jogados na calçada, há também três páginas do que
parece ser cotação de preço de celulares usados. Ito anotou o modelo dos
aparelhos, o valor negociado e o telefone do vendedor. Segundo o boletim de
ocorrência que versa sobre a morte de Jully, a vítima foi até a casa do calheiro,
com quem teve breve relacionamento, porque ele tinha prometido comprar um
celular pra ela.
Outra informação relevante contida no caderno são as várias
declarações de amor direcionadas à Jully Anne a quem Ito, por desconhecimento
gramatical, escrevia ‘Julieni’.
Uma delas é a frase: “eu sempre foi o que se importa, se
dedica e vai até o fim do mundo por alguém que amo” (sic).
O caderno contém também uma pequena lista de contatos
telefônicos, entre eles o da mãe de Ito. Foi através dessas anotações que a CBN
conversou com o padrasto do suspeito, que revelou que o enteado almoçou com
Jully no dia do crime.
“O último dia que vimos ele foi na segunda-feira. Ele veio almoçar
com uma jovem no restaurante que a gente tem. Depois que soubemos do crime pela
imprensa, reconheci a moça. Ele não nos apresentou ela, não era de falar da
vida pessoal. Hoje perguntei pra minha mulher se ela notou alguma coisa
diferente no comportamento do Paulinho aquele dia. Ela disse que não, que ele
comeu, deu um beijo nela e foi embora, como fazia sempre”.
O homem também acrescentou que Paulo não fazia uso de
medicamentos controlados e não apresentava distúrbios psicológicos.
O médico legista e perito criminal Levi Inimá de Miranda
analisou o boletim de ocorrência, que detalha a situação em que a vítima foi
encontrada. Ele também leu as anotações direcionadas à Jully Anne no caderno de
Ito. Para o especialista em criminologia, o principal suspeito pela morte da
jovem é psicopata.
“Levando em consideração as coisas que ele escreveu no
caderno e a forma com que o crime foi cometido, o perfil dele se trata de um
psicopata libertino. Ele tem plena capacidade de discernir, ele sabe muito bem
o que faz, ele sabe o que fez. A vítima já dizia que não queria mais se
encontrar com Ito porque certamente ele já estava apresentando comportamento abusivo
com ela, nos encontros sexuais. Talvez ele seja sádico. Ele não tinha ciúmes. É
um homem frio e de alta periculosidade”.
Entre os pertences do homem havia um pênis de plástico,
ainda na caixa. No caderno, três números telefônicos de sexshop.
O perito descarta a hipótese de crime passional:
“Jamais. Mostrou que tinha desprezo pela vítima por tê-la
matado de forma cruel. O psicopata sabe conviver em sociedade sem levantar
suspeitas sobre seus impulsos criminosos. No caso em questão, ele só se
transmutava a dois, na cama”.
Manuscrito do dia 11 de novembro reproduzia um trecho de música do grupo de rap Racionais Mc's: ‘A confiança é uma mulher ingrata, que te beija e te abraça, te rouba e te mata’. A frase foi seguida de um coração, o nome “Julieni” e outro coração.
O caderno encontrado pela reportagem será entregue na Delegacia de Investigações Gerais.