Um casal de moradores de rua compareceu no 3º Distrito
Policial de Rio Preto na noite desta quarta-feira, 08, para denunciar três
policiais militares por abuso de autoridade.
Segundo o boletim de ocorrência, Ayres Ribeiro, de 37 anos e
sua companheira Adriana Gomes, de 39 anos, que está grávida de seis meses,
dormiam embaixo do novo viaduto da região central quando foram surpreendidos
por três pms de bicicleta que, mediante violência, exigiram que eles saíssem do
local.
Adriana Gomes, que faz uso de medicamento controlado, teve
dificuldade para se levantar. Os policiais atearam fogo nos pertences das
vítimas e as chamas atingiram a gestante, que sofreu queimaduras em um dos
braços. Documentos pessoais, mantas, roupas e calçados foram consumidos pelo
fogo.
Trecho do boletim de ocorrência diz que “foram agredidos sem
saber o motivo e não tiveram tempo para fugir ou se defender”.
A reportagem esteve embaixo do pontilhão e fotografou
fuligem e indícios de fogo na parede. As fotos foram apresentadas ao delegado
Renato Pupo que, imediatamente, requisitou perícia para o local.
“Por se tratar de moradores de rua, exigi que o depoimento
deles fosse colhido durante a elaboração do boletim de ocorrência, porque é
um tipo de vítima difícil de ser localizada depois, haja vista não ter endereço
fixo. Também expedi requisição para que fizessem exame de corpo de delito no
Instituto Médico Legal”.
Antes de comparecer na delegacia, o casal procurou
atendimento médico na Unidade Básica de Saúde da Rua São Paulo, que não realiza
atendimento emergencial, mas em virtude da gravidade das queimaduras e da
condição da mulher, que está grávida, os enfermeiros medicaram a vítima e
fizeram curativo.
Apesar de fazer uso de medicamento controlado, o delegado
Pupo afirmou que a mulher estava lúcida e denunciou o crime com riqueza de
detalhes.
“O casal está realmente disposto a denunciar. Eles deixaram claro que têm condições de reconhecer os policiais militares envolvidos e que já os viram na Base Móvel que fica no calçadão da cidade", disse.
O delegado também expediu ofício solicitando que a Polícia Militar informe quem eram os policiais militares que estavam trabalhando de bicicleta no horário dos fatos e na região central.
A reportagem tentou localizar as vítimas em vários pontos da
cidade, sem sucesso.
Apesar de ter sido registrado no 3º Distrito Policial, o boletim de ocorrência será encaminhado para o 1º Distrito Policial, porque foi constatado posteriormente que a área onde aconteceu o crime pertence à outra delegacia.
NOTA OFICIAL DA POLÍCIA MILITAR (enviada às 17h45)
Sobre a
solicitação referente à ocorrência do dia 08.05.2019, em que policiais
militares teriam ateado fogo em moradores de rua, a Polícia Militar informa que não foi
comunicada formalmente pela Polícia Civil, sendo que os fatos chegaram ao
conhecimento por meio da imprensa, nesta data, 09.05.2019.
Logo que
tomou conhecimento da notícia, o Comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar
do Interior determinou a abertura de procedimento investigatório para apuração
dos fatos, e realização de diligências imediatas.
Preliminarmente,
já se apurou haver testemunhas da abordagem policial, segundo as quais os fatos
teriam ocorrido de forma diversa da relatada pelas supostas vítimas, conforme
declarações prestadas em Boletim de Ocorrência da Polícia Militar.
Também já
se apurou que o reclamante tem vários antecedentes criminais e que, até o
momento, não há indicações de testemunhas que confirmem a versão por ele
apresentada, conforme se verifica no Boletim de Ocorrência da Polícia Civil.
As investigações estão em curso e serão complementadas
com a coleta de outras provas sobre os fatos.