O sonho de constituir uma
grande família sempre foi uma prioridade na vida do arquiteto Jill Castilho e
do marido, o advogado Eder Serafim. Os dois se casaram em 2010 e cinco anos
depois estavam na fila de adoção. No dia 22 de janeiro de 2016, o casal
conheceu os três pequenos que fariam desse sonho uma realidade. Em uma cidade
de Minas Gerais, os irmãos Cauê, de 8 anos, Eric de 6 e Beatriz de 5, já aguardavam
pelo momento em que teriam uma família.
Após passar por vários procedimentos até a chegada das crianças a Rio Preto, o casal se viu desafiado. O primeiro ano foi o mais difícil na adaptação. Jill conta que a adoção carrega estigmas. Foi preciso entender que as crianças não vêm como os pais a idealizam. É um processo de construção de respeito e amor. "Você imagina que a criança vai se comportar de tal maneira e depois você não tem essa criança idealizada. É preciso se abrir para conhecer o seu filho. No primeiro ano foi difícil. A gente soube lidar até que muito bem. O ano de 2016 foi o ano mais desafiador, mas o mais feliz da minha vida, porque foi quando eles chegaram".
Após descobrir que não poderia gerar uma criança, a assistente administrativa, Aline Munhol de Martini, também optou em ser mãe por adoção. Ela e o marido, que moram em Rio Preto, ficaram dois anos e meio na fila quando ficaram sabendo que em Mato Grosso estavam os filhos Lucas e Luan, na época com 5 e 3 anos. O primeiro encontro entre eles já foi recheado de amor. Aline conta que a aproximação com as crianças também foi difícil no começo.
"O processo de aproximação é muito delicado. Nós adultos sabemos o que nós queremos, as crianças nem tanto. No lar onde eles ficavam, as crianças chamavam os adultos de 'padrinhos e madrinhas', que é muito próximo de pai e mãe. No dia em que nos conhecemos, o Luan virou para o meu marido e perguntou se ele era o pai dele. Meu marido desmontou. Após a primeira semana, eles já nos chamavam de papai e mamãe de um jeito natural".
Vinte e cinco de maio
marca o Dia Nacional da Adoção. A data foi comemorada pela primeira vez, em
1996, no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção. Mas foi
apenas em 2002, por meio da Lei 10.447, que ela foi instituída. A data visa
promover debates sobre um dos princípios mais importantes do Estatuto da
Criança e do Adolescente: o direito da convivência familiar e comunitária com
dignidade.
Mas, de acordo com a Vara
da Infância e Juventude de Rio Preto, o número de adoções a crianças e
adolescentes caiu 54% durante a pandemia. Foram 37 em 2019 e 17 em 2020. Nesse
ano, somente 5. A psicóloga da Vara, Priscila Silveira, diz que dois fatores
foram determinantes: as campanhas de incentivo à adoção e a pandemia da
covid-19. "O número de crianças disponíveis na nossa comarca reduziu porque fizemos uma série de campanhas para incentivar a adoção tardia, o que surtiu efeito. A outra questão é a pandemia, porque o trabalho precisou ser adaptado de forma remota. O procedimento de adoção conta muito com o trabalho presencial".
Em Rio Preto, os
adotantes buscam, na maioria, por crianças do sexo feminino, de até 3 anos e
brancas. Para este perfil, a espera chega a 6 anos. "Isso acaba, de certa forma, prejudicando crianças que têm idade superior a três anos. Elas acabam ficando "pra trás" por causa desse perfil escolhido pelos adotantes", diz a especialista.
Toda pessoa com mais de
18 anos de idade, seja ela casada, solteira ou em união estável, pode adotar
uma criança ou um adolescente. O adotante deve ser pelo menos 16 anos mais
velho que a criança ou o adolescente que pretende adotar. O primeiro passo é se
cadastrar pelo site do Conselho Nacional de Justiça. A adoção é um ato de amor
e responsabilidade e não de caridade.