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Sexta-Feira, 03 de Março de 2017 às 16:01

Labradora vítima de maus tratos é adotada e depois precisa ser sacrificada

Sofia, de quatro anos, foi um dos dois cães de Rio Preto diagnosticados com leishmaniose. "Precisei ser forte e pensar no bem estar coletivo", disse Letícia Tostes.

Duração: 04:08

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A encarregada financeira Letícia Tostes Aníbal, de 24 anos, sempre foi apaixonada por animais.

Ela é 'mãe' do Loki, um labrador de quase três anos, cuja personalidade se assemelha ao famoso Marley, o cão retriever do escritor John Grogan, cuja história virou filme.

Nem o ciúmes de Loki, nem seu espírito hiperativo, foram impedimento para que Letícia adotasse Sofia, cadela da mesma raça.

A labradora era filhote quando foi doada pela prima de Letícia a uma família de Votuporanga. Quatro anos depois, elas descobriram que a cadela estava sofrendo maus tratos. Letícia pegou a estrada e foi em busca do animal.

"Sofia está muito magra, machucada. Tem medo de receber carinho, tem medo de dormir a noite no escuro.
Quando ganha algo, fica tão feliz que age como se não fosse para ela.

Hoje, no nosso terceiro dia juntas, ela está aceitando mais carinho, está vendo que estamos aqui para ajuda-la e ama-la", escreveu em uma postagem no Facebook.

O animal virou membro da família no dia 28 de janeiro. Quatro dias depois foi diagnosticada com leishmaniose. Apesar da doença, no dia 09 de fevereiro Letícia postou o antes e depois de Sofia. Pouco mais de uma semana após ser adotada, parecia outra cadela. Ganhou peso e o pelo estava brilhante. Mais do que isso: o olhar medroso tinha dado espaço a fotos com a boca aberta e a língua de fora, como quem sorri.

Letícia e o marido Augusto Aníbal,  que não queriam acreditar no diagnóstico da doença mortal, contagiosa e incurável, custearam tantos exames quanto foram necessários até se prepararem para a decisão mais dura. Eles chegaram a iniciar uma campanha pelas redes sociais para pagar o tratamento de Sofia, mas precisaram pensar em todos.

Manter a labradora viva era manter um vetor da doença e assumir o risco de contágio ao Loki, à própria família, e aos vizinhos. Num gesto de altruísmo e respeito ao sofrimento de Sofia, a eutanásia foi a solução.

"Por favor, não me julguem, porque eu já estou me julgando demais.

Agradecemos a todos por ter compartilhado a foto dá Sosso, por querer ajudar. Muito obrigada mesmo.

Hoje recebi o protocolo para o tratamento da leishmaniose. Não cura, apenas pode prolongar a vida do animal. Remédios para tomar a vida toda, exames, vacinas, tudo para sempre.
Ao ano seria em torno de R$ 10 mil no mínimo, sem contar que tem que ficar isolada por causa das feridas.
Os remédios desse tratamento são muito fortes, atacam o fígado e o rim.
Nós estaríamos tratando uma coisa e causando outra. 
Sofia viveria a base de remédios, as vezes sempre de cone pois tem feridas que não estão cicatrizando, e poderia sofrer por outras coisas.
Ela seria para sempre uma hospedeira

Optamos pela eutanásia, pois tive que pensar em mim, no Augusto, no Loki, nas pessoas que moram no meu bairro e os outros animais que tem aqui bairro, que não são poucos.
Mas principalmente tenho que pensar na Sofia, não posso prolongar ou causar outro sofrimento nela.

Estou me sentindo muito impotente, estou muito triste. Minha filha vai virar estrelinha.
Até agora não quis acreditar que tudo isso estava acontecendo, não quis acreditar que era verdade, busquei fazer mais exames, briguei com o veterinário.

Desculpe pelo desabafo. "


Sofia morreu no dia 17 de fevereiro. E ninguém ousa duvidar que os últimos 20 dias foram os mais felizes da vida dela.


Leishmaniose preocupa prefeitura


A Secretaria de Saúde de Rio Preto, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Serviços Gerais, está em alerta para evitar o contágio da leishmaniose na cidade. Somente no início deste ano, dois cães foram diagnosticados com a doença - um em Engenheiro Schmitt e outro na Vila Angélica. Três mosquitos palha, transmissores da leishmaniose, foram capturados em dois bairros da cidade, Jardim Estrela e Estância Jockey Clube. Esses locais receberão atenção especial dos agentes de saúde. Além de não ter cura, a leishmaniose, que atinge principalmente cães, pode infectar humanos e provocar a morte.

Segundo o secretário de Saúde, Dr Eleuses Paiva, para cada cão diagnosticado, será traçado um radio de 200 metros em torno da localização dele. Todos os animais dessa área serão avaliados mediante retirada de amostra de sangue. A mesma regra vale para bairros em que foram encontrados mosquitos.

No ano passado foram colhidas 1288 amostras, sendo que 42 exames atestaram positivo para a doença em cães.

A prefeitura vai investir na capacitação dos funcionários. Os agentes de saúde vão vistoriar os imóveis e verificar se há criadouros nos quintais. O mosquito palha se reproduz em locais úmidos, de muita sombra e com a presença de material orgânico, como restos de frutas.

Entre as estratégias do Secretário da Saúde, está a realização de um censo para aferir quantos animais há na cidade e coordenar uma pesquisa por amostragem em 5500 animais para investigar a incidência da leishmaniose em Rio Preto.

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