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O empresário Paulo Zahra, de 49 anos, nunca pensou que enfrentaria uma batalha tão dura. Por complicações da Covid-19, precisou ser hospitalizado por dois meses. Como o quadro se agravou, ele foi internado na UTI.
Devido à intubação, que durou 36 dias, Paulo não conseguiu ver e nem falar com família. Foram momentos de angústia e solidão. Mas o empresário contou com a ajuda da equipe médica do hospital e da tecnologia para aliviar a saudade da esposa e dos filhos. Frequentemente, um dos médicos colocava no ouvido do paciente áudios de Adriana, mulher de Paulo.
"Toda vez que colocavam um áudio dela para mim quando eu estava na UTI eu começava a me debater. Minha família, a princípio, achou que isso iria me prejudicar. Minha esposa perguntou ao médico se ela poderia continuar mandando os áudios para eu ouvir. O médico respondeu que ela deveria. Ele contou para ela que em um determinado dia, ele colocou um áudio dela no meu ouvido e que meu batimento cardíaco aumentou", conta o empresário.
Quando já não estava mais intubado, mas ainda permanecia no hospital, Paulo começou a realizar videochamadas com a mulher. O recurso foi fundamental para que ele conseguisse vencer a luta definitivamente contra a doença.
"Eu acredito que foi importante quando eu estava sedado e também quando eu estava consciente. Porque aí eu vi que estava tudo bem. Ela me falava que estava tudo bem em casa, com as crianças e isso me deixava mais animado", conta.
Pacientes como Paulo estão, oficialmente, assegurados com o direito de fazer videochamada com familiares enquanto estiverem hospitalizados. No início desse mês, uma lei permite a realização de chamadas de vídeo entre familiares e pacientes internados em serviços de saúde que estejam impossibilitados de receber visitas. O principal objetivo da iniciativa é proporcionar cuidado humanizado.
A norma prevê, no mínimo, uma ligação por dia aos pacientes internados, respeitadas as observações médicas sobre o momento mais adequado. Se houver contraindicação, o profissional de saúde deverá justificar e anotar no prontuário.
A presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Suzana Lobo, considera a medida uma forma excelente de ajudar no tratamento em UTIs, não apenas de pacientes Covid. A especialista explica que a videochamada é fundamental para a recuperação de pacientes e uma maneira de confortar familiares.
"O contato do paciente grave com seus familiares é extremamente importante. No passado, as UTIs eram fechadas. Com o passar dos anos, essas visitas foram se abrindo aos familiares. Mas ouve retrocesso por causa da Covid-19. Não é só o paciente que adoece, a família também. A videochamada é importante para diminuir a ansiedade e o estresse da família e para tranquilizar a respeito da situação do paciente".
Um dos impasses para a realização de videochamadas em hospitais era a preocupação das instituições em preservar dados e imagens produzidas do paciente dentro da UTI.
Segundo o advogado e comentarista da CBN, Thales Bertucci, a lei determina que o serviço de saúde zele pela confidencialidade dos dados e das imagens produzidas durante a videochamada, principalmente nos casos em que o paciente está inconsciente.
"Um familiar pode autorizar a divulgação das imagens. O hospital vai fazer com que esse familiar assine um termo de responsabilidade pelas imagens divulgadas e essas imagens serão zeladas de forma confidencial".
Segundo o texto, o uso da tecnologia deve ser um direito a ser avaliado pela equipe médica, que poderá decidir o melhor momento emocional para que a vídeo-chamada seja realizada.