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Quinta-Feira, 12 de Setembro de 2019 às 19:54

Assassino de Dayra Nogueira registra histórico de violência e perseguição a mulheres

A CBN entrevistou três vítimas, entre elas uma jovem que também foi obrigada a montar na moto e seguir por uma rodovia. Ela conseguiu escapar, mas no dia seguinte quase foi morta a tiros, em casa. Especialista vê indícios de psicopatia.

Duração: 06:42

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♪ A reportagem sonora contém entrevistas. 

O motoboy André Luis de Oliveira, de 38 anos, assassino confesso da jovem Dayra Nogueira, já registrava histórico de violência e perseguição a mulheres.

Em 2008, ele foi condenado a 4 anos e 8 meses de prisão por tentativa de homicídio contra Letícia que, na época, tinha 21 anos.

A obsessão pela vítima começou no ano anterior. A jovem trabalhava em uma agência de mototáxi no Jardim Urano, onde Índio frequentava. Em pouco tempo, o homem se tornou próximo da família e amigos e passou a apresentar comportamento doentio e controlador. Assustada com o assédio, Letícia decidiu se afastar e André Luis passou a reagir com violência à rejeição sofrida.

Em novembro de 2007, ele invadiu a casa de Joana, no bairro Vila Maceno, atrás de Letícia.

A mulher, que na ocasião tinha 27 anos, foi proteger a amiga e acabou figurando como primeira vítima de Índio nos arquivos policiais.

"Ela estava escondida na minha casa e o Índio pulou o portão. Eu fiz barreira para a Letícia correr, então ele me deu um mata-leão e me asfixiou. Não sei de onde tirei forças para apertar o órgão genital dele, porque eu estava quase desmaiando. Não morri por Deus." 

Vizinhos ouviram gritos de socorro e Índio fugiu. Um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Defesa da Mulher como lesão corporal.

As mulheres passaram a conviver com o terror constante e Joana até mudou de endereço.

No ano seguinte, Letícia passou por situação semelhante à que Dayra sofreu. Ela andava pelo bairro quando Índio a abordou armado e obrigou a jovem a subir na moto. Segundo a vítima, ele a transportou pela rodovia Assis Chateaubriand.

"Ele dizia que iria me levar onde só ele soubesse onde estava o corpo. Acho que não era o meu dia, porque consegui convencê-lo a me levar de volta, com a condição de que dormiria com ele naquela noite. O Índio parou em casa pra eu pegar uma peça de roupa e eu liguei para a polícia".

Quando a Polícia Militar chegou, Índio já tinha escondido a arma. Ele negou as ameaças e disse que era namorado de Letícia, por isso acabou sendo liberado, mas no dia seguinte cumpriu a promessa: invadiu a casa da jovem e atirou contra ela, mas os disparos não acertaram. Ele foi preso uma semana depois.

O mesmo comportamento doentio foi percebido pelos amigos de Dayra, que tentaram afastá-la de Índio.

"A gente saía escondido, mas ele sempre aparecia onde nós estávamos. Ele era pegajoso e estranho"

No dia em que foi morta, Dayra tinha dito a amigos que estava indo com Índio para Catanduva. Durante o trajeto de moto pela rodovia Washington Luís, o criminoso mudou a rota e entrou na Vicinal Roberto Mário Perosa, onde, segundo a delegada Cristina Santana, a jovem foi morta.

"Ele disse que tinha um relacionamento ocasional com a vítima e que, durante uma discussão, foi agredido com um tapa no rosto. Como estava armado, sacou o revólver e atirou no rosto de Dayra"

Durante a apuração sobre as vítimas do homem, a reportagem também descobriu outro hábito peculiar do criminoso, assistir mulheres tomando banho. Em julho, Marta, que mora no Sinibaldi, flagrou o homem em seu quintal.

"Há três meses ouvíamos passos no quintal, víamos vulto no vitrô do banheiro. Um dia chamei a polícia e o Índio foi detido no corredor da minha casa"

Como aconteceu em outras abordagens, Índio mentiu aos policiais, dizendo que tinha ido levar um dinheiro para a mulher. Marta, com medo, não registrou boletim de ocorrência.

As vítimas descrevem o motoboy André Luis como extremamente inteligente dissimulado.

Um detalhe chama atenção no perfil das mulheres: todas são lésbicas.

Para o psiquiatra Ururahy Barroso, o criminoso apresenta indícios de psicopatia.

"Certamente se vinga nesse perfil de vítima algum trauma não superado."

Além dos crimes contra mulheres, André Luis de Oliveira registra antecedentes por tráfico de drogas, estelionato, posse de arma, roubo, extorsão , associação criminosa e furto qualificado.

Ele foi condenado seis vezes e a somatória das penas aplicadas é de 10 anos.  O último crime registrado foi em março do ano passado quando, em situação de rua, tentou invadir um hotel de São Paulo para furtar. Ele foi preso em flagrante e, em 20 de fevereiro deste ano, beneficiado com liberdade condicional.

Este é o terceiro feminicídio registrado esse ano em Rio Preto, mas poderiam ser 10, porque sete mulheres só não foram mortas por circunstâncias alheias à vontade de seus algozes.


* a reportagem usou nomes fictícios para preservar a identidade das mulheres 

 

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